terça-feira, 26 de janeiro de 2010

CHARLES DARWIN, e a "Origem das Espécies"


Comemora-se durante este ano de 2009, os 200 anos do nascimento do famoso naturalista britânico Charles Darwin. Por essa razão e para assinalar essa data, resolvi prestar esta singela homenagem escrevendo algumas linhas sobre a vida e a história do mais famoso cientista do seu século e um dos maiores da história.
A viagem que o jovem naturalista Charles Darwin realizou em 1831 abriu caminho a uma das teorias científicas mais influentes no pensamento moderno: a Teoria da Evolução das Espécies.A bordo da corveta Beagle, Darwin deu a volta ao globo recolhendo informações preciosas sobre a fauna em regiões que permaneciam inalteradas pela acção humana.
Charles Robert Darwin nasceu em 1809, na localidade de Shrewshury, no condado de Shropshire, na Inglaterra.
Depois de terminar os estudos secundários em 1825, Darwin ingressou na Universidade De Edimburgo para estudar medicina. Em 1827, por razões religiosas, abandonou a capital escocesa transferindo-se para Cambridge. Nesta universidade conheceu duas figuras eminentes do mundo da ciência: o geólogo Adam Sedgwick e o naturalista John Stevens Henslow, que lhe ensinaram a observar a natureza com um método rigoroso e a maneira de coleccionar espécimes. Depois de se licenciar, em 1831, com 22 anos, foi convidado, com a interferência de Henslow, para fazer parte da expedição do HMS Beagle, uma corveta preparada para uma viagem de investigação naturalista à volta do mundo.
A 27 de Dezembro de 1831, o HMS Beagle zarpou de Davenport rumo à América do Sul pois, antes de navegar para zonas de maior interesse naturalista, devia completar a ainda imprecisa cartografia da região. Comandava o navio o capitão Pringle Stokes, que contava entre os seus oficiais com o tenente Robert Fritz-Roy; eram ambos aristocratas de fortes convicções religiosas e esperavam que as descobertas de Darwin pudessem confirmar a veracidade do Génesis Bíblico. Darwin acalentava a mesma esperança.
A 4 de Abril de 1832, o Beagle ancorou na baía do Rio de Janeiro, um dos portos de maior actividade negreira e onde o fenómeno da escravidão impressionou deveras o naturalista, tal como o confirmou nos seus diários. Três meses depois, a corveta partiu para Montevideu, navegando depois para a Baía Branca, na Argentina, onde Darwin desenterrou ossos fossilizados de animais desconhecidos.
Robert Fritz-Roy era da opinião que se tratava de animais que não tinham conseguido salvar-se na Arca, mas Darwin sustentava que podiam ser animais impossibilitados de sobreviver às inconstantes alterações climatéricas, hipótese que avançou depois de descobrir conchas em zonas onde, aparentemente, nunca existira mar.
A 16 de Dezembro de 1832, a expedição alcançou a Terra do Fogo, onde o mau tempo obrigou o Beagle a enfrentar adversidades terríveis. Para dobrar o cabo Horn, o navio empenhou-se, durante um mês, numa penosa navegação contra o vento do oeste, e a violência de um temporal acabou por tresloucar o capitão Pringle Stokes que, confrontado com a perspectiva de ter de passar o Inverno naquela zona, se suicidou com uma pistola. W.C. Skyring, imediato de Stokes, assumiu o comando, mas, quando aportaram no Rio de Janeiro, o almirante Ottway, comandante-em-chefe daquele posto naval, nomeou o tenente Robert Fritz-Roy, de 23 anos de idade, capitão do Beagle.
Nos meses seguintes, capitaneado pelo jovem Fritz-Roy, o Beagle atravessou as águas da Patagónia e do estreito de Magalhães, navegando depois para norte, pelo litoral do Pacífico sul-americano, até Valparaíso. Enquanto Darwin levava a cabo uma expedição à cordilheira dos Andes, num percurso de 700 km, Fritz-Roy auxiliava um barco inglês que naufragara a sul de Concepción e cujos tripulantes corriam o perigo de serem atacados pelos indígenas. Nessa altura, o capitão do Beagle solicitou o comando do HMS Blonde, uma fragata de guerra britânica que se encontrava na zona, para acorrer em ajuda dos náufragos. Consideraram a sua actuação heróica já que, depois de uma viagem, conseguiu salvar todos os tripulantes.
No porto de Copiapó, o Beagle recolheu Darwin, que regressara carregado de especímenes e de cadernos com apontamentos. Depois zarpou rumo às ilhas Galápagos, uma das escalas mais importantes da viagem. A 16 de Setembro de 1835, a expedição desembarcou no arquipélago, que o jovem cientista descreveu como um dos lugares mais fascinantes para um naturalista. Nessas ilhas, Darwin levou a cabo observações da flora e da fauna, diferentes de tudo o que tinha visto até então e que se revelaram da maior importância para a sua investigação. Seriam, efectivamente, fundamentais para os seus estudos futuros e para a elaboração da sua teoria da evolução.
Depois de mais de dois meses de trabalho nas Galápagos, a expedição fez uma escala no Taiti, para, entre outras coisas, prestar homenagem à rainha Pomaré, antes de navegar até à Nova Zelândia, onde Darwin prosseguiu com os seus trabalhos. A 12 de Janeiro de 1836, a expedição chegou a Port Jackson, na Austrália, um país cujos aborígenes interessaram a Darwin enormemente.A seguir, o Beagle navegou até Sidney, Tasmânia e até à zona do cabo Leewin, regiões que permitiram a Darwin confirmar as teorias do geólogo Charles Lyell sobre a formação dos atóis coralinos, (a grande barreira de coral). A expedição dirigiu-se ao Índico, até à ilha de Cocos, situada a este de Java, para depois atravessar o oceano até à ilha Maurício e daí até ao cabo da Boa Esperança.
Depois de fazer escala nas ilhas de Santa Helena e de Ascención, e de uma estadia de um mês nas costas do Brasil (Pernambuco e Baía), para melhorar a cartografia da Royal Navy, o Beagle empreendeu a viagem de regresso até a Inglaterra, aportando em Falmouth a 12 de Outubro de 1836, ao cabo de quase cinco anos de viagem.
Depois das suas viagens, Darwin passou o resto da sua vida a desenvolver diversos aspectos de problemas apresentados na sua obra A Origem das Espécies no Meio da Selecção Natural.Alguns sectores científicos da época criticaram as teorias expostas em A Origem das Espécies, mas a reacção mais colérica foi do pensamento religioso ortodoxo.
A ideia de que os organismos vivos tivessem evoluído por processos naturais contradizia os dogmas bíblicos e situavam a humanidade num plano idêntico ao dos animais, coisa que a maioria dos teólogos da época não podia aceitar. Esta polémica acompanhou Darwin até à sua morte, em 1882.

OS QUARENTA RUGIDORES


A zona dos oceanos do Sul que se encontra entre os paralelos 40 e 60 é uma das mais temidas e respeitadas pelos navegadores, por causa dos temporais frequentes que os ventos de componente oeste desencadeiam e das ondas enormes ao longo de milhares de milhas que duram semanas. É uma vasta zona que rodeia o planeta e a mais afastada da terra habitada.A história da navegação está repleta de relatos de naufrágios e de experiências terríveis na zona do mundo açoitada pelos ventos que popularmente se conhecem como os Quarenta Rugidores ou os Cinquenta Uivadores. As baixas latitudes austrais são uma das zonas de navegação que mais amedrontam os navegadores desde que o português Bartolomeu Dias sulcou as suas águas pela primeira vez em 1488, navegando para lá dos 40º de latitude sul. Enquanto procurava o último cabo africano, o cabo das Tormentas (hoje cabo da Boa Esperança), Bartolomeu Dias viu-se obrigado a afastar-se bastante da costa na direcção su-sudoeste por causa dos ventos contrários, levando-o a ultrapassar o paralelo 40. Foi ali que deparou-se com os fortíssimos ventos do oeste que lhe permitiram rumar a nordeste, acabando por dobrar o cabo da Boa Esperança sem o ver. O navegador português e os seus homens foram os primeiros a navegar tão para sul e foi o terror da tripulação ao penetrar naquelas águas frias e ameaçadoras que o obrigou a alterar o seu rumo.Uma vez descoberta a rota até à Índia pelo Índico, os navegadores lançaram no esquecimento as latitudes do hemisfério sul para lá do paralelo 40, já que nenhum explorador se atreveu a aventurar-se nessas regiões do planeta onde se pensava nada mais existir do que gelo e tempestades medonhas.
Em 1520, a expedição de Fernão de Magalhãesfoi a primeira a descer para lá do limite estabelecido por Bartolomeu Dias. Na sua busca da tão desejada passagem até ao chamado Mar do Sul, Magalhães foi descendo até se deter para passar o Inverno numa enseada que denominou de Puerto de San Julián, a 49º de latitude sul. Passaram ali cinco duros meses de frio e incerteza, com a tripulação a ter de suportar a dureza do clima e os terríveis ventos de oeste e sudoeste, que uivavam sem cessar, avivando os seus temores acerca do que poderiam encontrar assim que virassem rumo ao Mar do Sul e ficassem a barlavento do continente sul-americano. Magalhães descobriu o estreito que tem o seu nome, alcançou o Mar do Sul num estado de calmaria pouco habitual e subiu rapidamente para norte pela costa chilena, afastando-se daquelas inóspitas latitudes.
O primeiro marinheiro famoso a enfrentar absolutamente as duras condições meteorológicas das baixas latitudes austrais foi Francis Drake. O corsário inglês entrou no Pacífico pelo estreito de Magalhães em Setembro de 1578, com a intenção de procurar a passagem do Noroeste até à Ásia e de atacar os espanhóis nas costas sul-americanas. Mas se Magalhães beneficiou de umas condições climatéricas calmas, Drake deu de caras com a rudeza das tempestades austrais.
Um temporal terrível com ventos de noroeste semelhantes a furacões desviou-o para sul e durante dois meses os três navios da expedição tiveram de enfrentar condições terríveis. Só o Golden Hind de Drake manteve o rumo em direcção a sul, levando-o a encontrar a passagem entre a Antárctida e a América do Sul. Quando Drake regressou a Inglaterra, relatou as duríssimas condições que teve de enfrentar e a fama do terrível sul espalhou-se pelo país.

Cabo Horn, O Suplício dos Navegadores


O Cabo Horn é um lugar mítico para os navegadores.
Desde que foi descoberto em 1616, as dificuldades que os marinheiros e os navios têm de enfrentar por causa da sua orografia e meteorologia peculiares transformaram a sua travessia numa das navegações mais temidas e pejadas de lendas.
O cabo Horn foi descoberto em 1616 por causa das restrições comerciais impostas pela Companhia Holandesa das Índias Orientais, que proibia às outras companhias holandesas o comércio com as Índias através do estreito de Magalhães ou do cabo da Boa Esperança. A proibição era, por conseguinte, total, pois não se conhecia uma rota alternativa. Por essa altura, ninguém se tinha aventurado a explorar mais a sul do estreito de Magalhães; em 1578, Francis Drake provou que o mar se estendia abaixo da Terra de Fogo (a chamada Passagem de Drake), mas não descobriu o cabo porque fez a passagem do Atlântico para o Pacífico pelo estreito de Magalhães; por esta razão, em princípios do séc. XVII, o limite do continente sul-americano permanecia um mistério.
Isaac Le Maire, um rico comerciante holandês, decidiu patrocinar uma expedição que descobrisse outra passagem e diminuísse assim o monopólio imposto pela Companhia das Índias Orientais. Com a participação de vários comerciantes e políticos da cidade de Hoorn, também adversários do monopólio, criou uma companhia, a chamada Goldseekers (pesquisadores de ouro), e contratou Willem Corneliszoon Schouten, um navegador holandês bastante experiente, para comandar dois barcos, o Hoorn e o Eendracht.
Em Maio de 1615, os dois navios deram início á expedição com um único objectivo: chegar às Índias por uma rota nova que ligasse o Atlântico ao Pacífico. A descida pelo Atlântico decorreu sem incidentes até que, durante um reabastecimento na Patagónia, um incêndio destruiu o Hoorn. Schouten não desanimou e continuou a viagem apenas com o Eendracht. A 28 de Janeiro de 1616, passou a sul do estreito de Magalhães, alcançou a passagem que existia entre o cabo San Diego e a actual ilha de Los Estados e baptizou-a com o nome de, estreito de Le Maire, numa homenagem ao patrocinador da expedição.
Depois, seguiu rumo a oeste. No dia seguinte, a 29 de Janeiro de 1616, vislumbrou um promontório a sul, que na sua continuação não parecia ter mais do que mar, e chamou-lhe cabo Hoorn em honra da cidade holandesa.
Os ingleses mudariam mais tarde o nome para Horn e os espanhóis para Hornos. A neblina que rodeava o navio enganou a tripulação que pensou ser o cabo, que se ergue quase a 500 metros acima do nível do mar, uma extensão do continente e não uma ilha.
Depois de atravessar o Pacífico sul, o Eendracht chegou a Batávia (Indonésia), onde Schouten e a sua tripulação foram presos pelas autoridades holandesas por ordem da Companhia, que não acreditou que tivessem descoberto outra rota, acusando-os de terem navegado pelo estreito de Magalhães. Durante o julgamento, porém, concedeu-se o benefício da dúvida e foram libertados. Pouco tempo depois, os seus dados foram confirmados por outros navegadores holandeses e espanhóis. É o caso de García e Gonzalo de Nodal, que lhe chamaram: cabo de San Ildefonso, convencidos de que eram os primeiros a avistá-lo.
A nova rota acrescentava mais 60 milhas de navegação para além do estreito de Le Maire. No entanto, não se mostrou mais proveitosa que a complicada passagem pelo estreito de Magalhães que, com a inconstância dos ventos e o risco de encalhe nas rochas, complicava sobremaneira a travessia aos barcos de pano redondo da época, que muitas vezes se viam obrigados a aguardar uma mudança na direcção do vento para superar esses estreitos apertados.
Mas a violência das tempestades do cabo Horn, sobretudo as provenientes de oeste, fez da passagem recém-descoberta, uma rota nada aconselhável para os marinheiros daquele tempo. A força incontrolável dos temporais de oeste, especialmente os que geravam ventos de noroeste, canalizados entre a cordilheira dos andes e a península antárctica, criavam uma ondulação gigantesca e imprecisa pela acção de correntes opostas.
Tudo isto, a par da presença habitual de icebergues e de gelos flutuantes durante a Primavera e o Verão austrais e as neblinas persistentes em certas alturas do Inverno, ofereciam aos navegadores um panorama pouco convidativo.
Por tudo isto, foram poucos os barcos que se aventuraram nesta zona, e pelas mesmas razões só em 1624 é que se concluiu que o cabo, afinal, se encontrava numa ilha. Só já bem entrado o séc. XVIII, quando os barcos incorporaram cascos e aparelhos mais resistentes e manobráveis e bujarronas à proa que lhes permitiam fechar mais a bolina, é que o cabo Horn começou a ser usado como rota alternativa ao estreito de Magalhães
Foi precisamente durante este período que o cabo ganhou uma fama terrível. Em 1741, o almirante inglês Anson, numa incursão contra as colónias espanholas do Pacífico, decidiu dobrar o cabo com oito navios, mas um temporal monstruoso de noroeste abateu-se sobre a frota britânica, que perdeu cinco navios em apenas horas.
Pouco tempo depois, durante a febre do ouro da Califórnia, havia colonos que preferiam viajar por mar a partir da costa ocidental da América do Norte para evitar os ataques dos índios às caravanas, mas a rota pelo cabo Horn revelou-se tanto ou mais perigosa e não foram poucos os navios que naufragaram na travessia.
Também foram muitos os clippers que desapareceram ao longo do séc. XIX, quando tentavam alcançar no máximo da sua velocidade os seus portos de destino com o propósito de conseguirem os melhores preços de venda para as suas mercadorias.
A descoberta do vapor, primeiro, e do motor diesel depois tornou a passagem menos arriscada, até que, com a abertura do canal do Panamá, a 15 de Agosto de 1914, a rota do cabo Horn deixou de ser obrigatória e a sua lenda foi caindo no esquecimento. Mas a partir da década de 60, o aparecimento da navegação desportiva oceânica, as regatas em redor do mundo e os recordes de circum-navegação, recuperaram o seu mito e popularizaram-no entre os aficionados do desporto náutico à vela.
As histórias sobre as adversidades do cabo Horn são inumeráveis. Durante o séc. XVII, o naufrágio de galeões que enfrentaram a passagem de Este para Oeste aconteceu com tanta frequência que as companhias comerciais chegaram a considerar que, por ser tão perigosa, a nova rota não compensava a passagem pelo estreito de Magalhães.
Os exemplos mais evidentes são a viagem do Edward Sewall, um paquete de quatro mastros que tentou dobrar o cabo a 10 de Março de 1904, conseguindo-o apenas a 8 de Maio, e a do Cambronne, que levou 92 dias para alcançar o Pacífico e que sofreu sérias avarias no aparelho.
A pior situação climatérica do cabo Horn dá-se quando a tempestade, que costuma gerar-se a oeste da passagem de Drake, projecta ventos de N O que se avivam pelo efeito da cordilheira dos Andes. Estes ventos, que podem ultrapassar os 60 nós, levantam uma ondulação monstruosa que se sobrepõe ao mar de fundo, vindo do Atlântico.
Foram estas condições que originaram os naufrágios do velejador norueguês, Hal Hansen e do canadiano Gerry Rouffs. Os dois navegadores desapareceram após violentos temporais e os destroços dos seus barcos apareceram, respectivamente, no litoral da Terra do Fogo e da Patagónia.